Saudação do CCEE à Plenária do SECAM

Saudação do CCEE à Plenária do SECAM

Luanda, 19 de Julho de 2016

Senhor D. Gabriel Mbiling,

Senhores cardeais,

Senhores bispos,

Caros amigos,

Trago com gosto a saudação do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, o CCEE, e em especial do seu presidente, o Cardeal Péter Erdö, e dos vice-presidentes, o Cardeal Angelo Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana  e o Arcebispo D. Angelo Massafra, presidente da conferência Episcopal da Albânia.

Os desafios

Entre os grandes desafios que a Europa atravessa actualmente e que a Igreja também é chamada a enfrentar e a dar um contributo temos alguns que são muito visíveis: a questão dos emigrantes e refugiados que chegam à Europa vindos dos países africanos ou dos países do Médio Oriente em guerra. O debate à volta desta questão é complicado e o que a Igreja insiste é que a Europa deve saber acolher os que lhe batem à porta. O trabalho das várias Caritas Nacionais e de outras organizações eclesiais tem sido impressionante. Mas a Igreja na Europa também tem tentado dar voz aos que sofrem dizendo aos seus governantes que se empenhem sem hipocrisia na promoção da paz, no cuidado pela dons do Criador através de uma consciência formada na linha da Laudato si’ e na ajuda ao desenvolvimento dos países africanos mais pobres ou onde há conflitos. Infelizmente não vemos com clareza que os nossos apelos gerem grande empenho político e os interesses económicos ou geo-politicos tendem a prevalecer.

A Questão da paz também é um tema que tem estado muito presente dentro do nosso continente europeu. Não só por causa dos ataques terroristas que vão surgindo e que ameaçam a estabilidade e a coesão social, mas sobretudo porque temos uma guerra em acto na Ucraina, que ainda não está resolvida e que já deixou tantas feridas quer na relação entre as pessoas quer mesmo entre as Igrejas.

A raiz da crise

Não podendo fazer uma análise aprofundada, penso que podemos, no entanto dizer que raiz de todas as dificuldades europeias está na falta de fé e na secularização generalizada que leva a uma crise da pessoa humana. A maioria dos europeus vive como se Deus não existisse, e muitas vezes enfrentando o próprio Deus, quase como se fosse Ele a ter de se justificar diante dos homens e não o contrário. A sociedade europeia enriqueceu e agora julga que basta o que se pode ter para se ser feliz, mas está desorientada. A tristeza e o cansaço, como recorda o Papa quando diz que a Europa se tornou numa idosa sem possibilidade de gerar vida, marcam o dia a dia da maioria dos europeus, mesmo quando não lhes falta nada materialmente.

O viver sem Deus leva, portanto, ao individualismo e à crise da família. Os casamentos que se deixam de fazer, porque as pessoas preferem não assumir tantas responsabilidades e se juntam sem se casarem. Os divórcios que são muitas vezes mais numerosas que os casamentos. Os filhos que já quase não nascem, havendo uma taxa de fertilidade baixíssima em quase todos os países, é incapaz de renovar as gerações. Com o aborto a normalizar-se. Os idosos que são abandonados ou deixados sozinhos em suas casas ou em asilos onde vão morrendo psicologicamente antes da morte física, por causa da solidão. São tudo sinais de que a família europeia está doente.

E o individualismo também está por detrás da crise da solidariedade entre países. Não só a União Europeia deixou de ser uma experiência amada pela maioria dos cidadãos, como se vê com o Reino Unido a querer deixar de ser membro, como se tornou, para muitos, instrumento de uma ideologia mundialista capitalista e materialista que tenta determinar a nossa vida em vez de valorizar as culturas, as nações e as famílias. A Igreja, no entanto, insiste na importância da União Europeia e recorda que a paz se faz também porque os países estão unidos e precisam uns dos outros, mas pede que a UE se saiba reformar continuamente e que seja mais próxima das pessoas e menos determinada por poderes económicos e ideologias, como a da Nova Ordem Mundial ou a do gender que tanto mal faz às pessoas e à sociedade.

Missão da Igreja

A Igreja precisa de ser semente de comunhão que não finge que tudo está bem e não pretende que todos estão de acordo sobre tudo, mas que olha mais para a unidade e escuta os outros, e isto é algo que está a faltar na Europa. As tensões entre leste e oeste, entre norte e sul, são hoje desafios reais do continente mas também da Igreja chamada a ser exemplo e experiência de comunhão de vida em Jesus Cristo.

Por tudo isso a Igreja sente como apelo forte que a sua missão específica é evangelizar. Anunciar Jesus Cristo vivo é a grande alegria da Igreja de sempre, e que hoje na Europa se tornou evidente. E há experiências belíssimas que mostram que é possível um homem moderno europeu acreditar que Jesus é o Filho de Deus e seguir Jesus numa vida de caridade. É verdade que há tantos católicos batizados que não se lembram de Deus, que há tanta falta de padres e de pessoas consagradas, que as famílias cristãs se deixam apanhar pelas mesmas doenças que as não cristãs, mas isso não é a verdade completa da Igreja na Europa. Há comunidades vivas, jovens que descobrem a fé que os pais perderam, obras de caridade que nascem da fé e daquela misericórdia que Deus tem pelos pobres e contagia os que O seguem, famílias cristãs que se apoiam e que, sem medo, têm filhos e lhes comunicam a fé. E está renovação da Igreja, que não é apenas o retomar de uma Igreja maioritária, mas de uma fé viva, é o grande sinal de esperança.
A amizade que tem nascido entre os episcopados africano e europeu através dos encontros regulares organizações conjuntamente pelo SECAM e pelo CCEE tem feito ver quantos desafios comuns, mas também quanto precisamos uns dos outros. A fé na Europa tem sido enriquecida pela presença de tantos africanos, por favor não nos abandonem. Precisamos da vossa fé, da vossa alegria, do testemunho da comunhão que vivem.

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